sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Impressões Iludentes: o fanático



E persiste a semente de ahankara, em frondosa árvore de sombras no coração e na mente do fanático. 
Porque um fanático NUNCA se percebe como tal.

Dividindo o mundo em heróis e vilões e acreditando-se plenamente do lado do certo e do justo, incentiva o linchamento, o ódio, o saque e o ataque. 

O fanático se admira no espelho de seu mundo dualista e enxerga apenas o que quer ver. E NUNCA vê ele mesmo: fanático. 
Pois se visse, não o seria. É cego de si.

E o Herói, o verdadeiro, continua casual. Emergindo por um segundo das ondas do horror e sumindo novamente, náufrago da história. Nunca está inteiro na imagem que deixa. Vive em um mundo sem vilões desfazendo a vilania. Sua forma é só passado. Seu Amor é o presente. O futuro não lhe pertence.


Nós estavamos cobrindo outra história quando ouvimos tiros. 
Nós corremos em direção ao som e encontramos uma loja sendo saqueada.
Dois policiais haitianos atiravam de vez em quando para o ar, tentando impor a ordem, mas funcionou por
pouco tempo e os saques recomeçaram.
Estavam roubando caixas de velas. 
Um negociante americano chamado Tony que era dono de duas lojas próximas, barricou uma rua para manter
os saqueadores afastados.
Ele armou os dois policiais haitianos com armas automáticas, e eles o estavam ajudando, mas não
conseguiam controlar nada que estivesse além da barricada.
Rapidamente virou um deus-nos-acuda. Jovens lutavam uns com os outros pelos ítens roubados.
Alguns deles tinham facas, porretes, chaves-de-fenda e pedras.
Estavam usando suas armas improvisadas para ameaçar e agredir os outros que tinham algo roubado.
Os ladrões agora eram roubados.
Eu estava em meio à pancadaria com meu produtor, Charlie Moore, meu câmera, Neil Hallsworth, 
meu tradutor, Vlad Duthiers. 
E havia também um fotógrafo da Getty Images, o foto-jornalista Jonathan Torgovnik.
Quando as coisas ficaram completamente fora de controle, eu vi um saqueador no telhado de uma loja
invadida atirar na multidão o que parecia ser um bloco de concreto.
Atingiu um garoto na cabeça.
Eu vi ele tombar.
Mais pedaços de concreto eram atirados nos saqueadores no telhado.
O garoto ferido não conseguia se levantar.
Ele tentou, e caiu novamente.
Sangue vertia de sua cabeça.
Ele estava consciente, mas não tinha controle de seu corpo.
Eu fiquei com medo que alguém no telhado o visse ali e atirasse outro bloco de concreto.
Eu fiquei com medo que alguém o matasse.
Ninguém parecia se importar com ele.








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